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A Interseccionalidade no Ativismo: Porque Todas as Vozes Importam

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  • 20 de out. de 2024
  • 4 min de leitura
Lines Intersecting Impact + Especialistas na Sociedade Civil Advocacy

No mundo do ativismo contemporâneo, há uma palavra que tem vindo a ganhar cada vez mais destaque: interseccionalidade. Mas o que é, exatamente, e por que razão tem um papel tão crucial nas campanhas de justiça social? Neste artigo, vamos explorar este conceito e discutir a importância de considerar diferentes identidades e experiências no ativismo, garantindo que todas as vozes são ouvidas.


O que é a Interseccionalidade?


O conceito de interseccionalidade foi originalmente cunhado pela professora e advogada Kimberlé Crenshaw em 1989. Crenshaw, uma figura de destaque nos estudos jurídicos e de direitos humanos, usou o termo para descrever a forma como diferentes sistemas de opressão e discriminação se sobrepõem e interagem. A ideia é simples, mas poderosa: as nossas identidades são compostas por vários fatores (como género, raça, classe, orientação sexual, entre outros), e é importante compreender como essas identidades múltiplas podem gerar experiências de opressão ou privilégio. Por exemplo, uma mulher negra pode enfrentar tanto racismo como sexismo, experiências que, combinadas, criam uma forma única de marginalização. A interseccionalidade, assim, sublinha a importância de considerar todas estas facetas ao abordar a justiça social. Ela revela como um ativismo que só se foca numa questão — como o feminismo que apenas aborda as questões das mulheres brancas, por exemplo — pode, inadvertidamente, excluir aqueles que estão numa posição mais vulnerável por causa de múltiplas formas de opressão.


A Relevância da Interseccionalidade no Ativismo

Quando falamos de interseccionalidade, falamos de criar um espaço onde todas as vozes são consideradas, e não apenas as mais audíveis ou as mais representadas. O ativismo tradicional, muitas vezes, falha ao não reconhecer que uma solução única para todos os problemas não reflete as realidades vividas por pessoas de diferentes origens. E isto é um problema.


Ao ignorar a interseccionalidade, corremos o risco de reforçar os mesmos sistemas de opressão que estamos a tentar combater. O movimento feminista, por exemplo, já foi criticado por ser demasiado focado nas experiências das mulheres brancas, de classe média. Este foco deixa de fora as necessidades específicas das mulheres negras, das mulheres LGBTQIA+, das mulheres com deficiência, entre outras.


A justiça social não pode ser eficaz se não considerar todas as camadas de identidade que tornam a experiência humana tão diversa. Para que o ativismo seja realmente transformador, ele precisa ser inclusivo, adaptando-se às necessidades e realidades de todas as pessoas que estão a lutar por mudanças.


Exemplos de Advocacy Interseccional


Ao longo dos anos, temos visto alguns movimentos sociais começarem a abraçar a interseccionalidade, tornando-se mais inclusivos e representativos. Aqui estão alguns exemplos de como o ativismo interseccional tem feito a diferença:

  1. Black Lives Matter (BLM): Este movimento não luta apenas contra o racismo; ele também aborda as formas como a opressão racial se cruza com a opressão de género, a violência policial e o encarceramento em massa. O BLM tem destacado consistentemente as dificuldades enfrentadas pelas mulheres negras, pessoas trans negras e pessoas com deficiência negras, promovendo uma abordagem inclusiva e interseccional da justiça racial.

  2. Marcha das Mulheres (Women's March): Em resposta às críticas de exclusão, a Marcha das Mulheres adotou uma agenda interseccional, comprometendo-se a incluir mulheres de diferentes contextos e com diferentes lutas. Esta mudança refletiu-se na sua agenda, com atenção a questões como os direitos LGBTQIA+, a igualdade racial, os direitos das pessoas com deficiência e a justiça económica.

  3. Movimento pelos Direitos das Pessoas com Deficiência: Este movimento tem vindo a integrar a interseccionalidade, abordando como a deficiência pode agravar outras formas de opressão, como o racismo e o sexismo. Por exemplo, uma mulher negra com deficiência pode enfrentar barreiras adicionais no acesso ao emprego ou aos cuidados de saúde, que não seriam abordadas se a campanha focasse apenas na discriminação baseada na deficiência.


Como Tornar as Campanhas Mais Inclusivas?

Agora que já entendemos a importância da interseccionalidade, a questão que se coloca é: como podem os ativistas garantir que as suas campanhas refletem esta realidade?


Aqui estão algumas estratégias para tornar as campanhas de justiça social mais interseccionais:


  • Escutar diversas vozes: Inclui pessoas de diferentes origens nas tuas discussões e nas decisões que tomas. Certifica-te de que as vozes de grupos historicamente marginalizados, como pessoas negras, pessoas LGBTQIA+ e pessoas com deficiência, estão sempre presentes e são ouvidas.

  • Educação contínua: Os ativistas devem investir tempo a educar-se sobre as diferentes formas de opressão e como elas interagem. Isto pode envolver ler sobre racismo, classismo, capacitismo, entre outros, e estar disposto a aprender com os erros.

  • Evitar a "tokenização": A inclusão verdadeira vai além de ter apenas uma pessoa de uma minoria no grupo para "cumprir quota". Garantir que essas pessoas têm poder real de decisão e que as suas perspetivas são realmente valorizadas é fundamental.

  • Revisar políticas e práticas: As políticas internas e os modos de operar das campanhas devem ser revistos regularmente para garantir que não estão, inadvertidamente, a perpetuar formas de opressão. Isto inclui, por exemplo, garantir que os eventos de ativismo são acessíveis a pessoas com deficiência.


Perguntas Frequentes (FAQs)


1. O que significa ativismo interseccional? Ativismo interseccional é uma abordagem que considera as múltiplas identidades e experiências de opressão que uma pessoa pode ter, como raça, género, classe, deficiência e orientação sexual, garantindo que as campanhas de justiça social sejam inclusivas e representativas.

2. Como a interseccionalidade afeta a justiça social? A interseccionalidade reconhece que a opressão não ocorre de forma isolada. Ao considerar as múltiplas camadas de identidade, o ativismo interseccional cria soluções mais eficazes e justas para combater as desigualdades.

3. O que os ativistas podem fazer para incluir a interseccionalidade nas suas campanhas? Os ativistas devem ouvir e aprender com pessoas de diversas origens, educar-se continuamente sobre diferentes formas de opressão e garantir que as suas políticas e práticas refletem uma verdadeira inclusão.


A interseccionalidade é mais do que um conceito académico; é uma ferramenta vital para garantir que o ativismo promove uma justiça social abrangente e inclusiva. Ao considerar as múltiplas facetas da identidade, os ativistas podem criar campanhas que não só desafiam os sistemas de opressão, mas que também elevam as vozes que muitas vezes são esquecidas. Num mundo onde cada vez mais se procura a justiça, é imperativo que todas as vozes sejam ouvidas e que nenhuma luta seja deixada de lado.

Portanto, da próxima vez que te juntares a uma causa ou que ergueres uma bandeira, lembra-te: a verdadeira mudança começa quando ouvimos a todos.

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